sábado, 3 de julho de 2010

SUBINDO AO ALTAR


Se tivesse talento para ser escritor escreveria um livro sobre casamentos.
Tinha 14 anos de idade quando passei a participar destas celebrações, cantando no coral Dom Silvério. Trinta e oito anos já se passaram, entre sextas e sábados, principalmente, vendo a expectativa dos convidados, as emoções, os nervosismos, sorrisos e lágrimas dos noivos ao subir ao altar, ouvindo a sua música preferida que, na maioria das vezes era Ave Maria ou Marcha Nupcial.
Durante as audições, sugerindo músicas, alguns noivos já começavam a chorar, pela emoção. Sempre dizia e, às vezes, ainda digo: deixem para chorar quando chegar as contas de água, luz, telefone... Deixem para chorar quando passarem pelo caixa de um supermercado. Curtam este momento.
Mas, voltando ao que me referi no início, sobre o desejo em escrever um livro, acho que escreveria um livro de humor. É claro que omitiria os nomes dos verdadeiros personagens. Contaria os "milagres", os santos... Jamais!
Com certeza, em um dos capítulos, contaria sobre aqueles que desmaiaram no altar. Que subiram bêbados e acho que nem sabiam onde estavam.
Contaria sobre aquelas que, ao ter que dizer aquele juramento, travaram, não paravam de chorar. Eu pensava: Será que estão arrependidos?
Contaria sobre a vez em que um amigo, hoje médico, tocando harmônio, sentado num banco, cheio de cupins, e que se inclinava para o lado, pelo peso do músico. Enquanto se ocupava em pedalar o fole deste instrumento e a tocar ao mesmo tempo, pés e mãos ocupados, foi preciso que o flautista segurasse o banco com um dos pés. Isso na frente dos convidados. Ambos de olho na partitura e no banco, é claro.
Contaria sobre a vez em que um dos holofotes do fotógrafo explodiu e uma faísca caiu na decoração de flores secas, que por sua vez pegou fogo e caiu na grinalda da noiva. Vi dezenas de bocas abertas, inclusive a minha, observando tudo, paralisados, acompanhando a evolução pirotécnica, em câmara lenta. A única pessoa que tentou ajudar, estava bêbada e pelo bafo etílico, ajudou a incendiar ainda mais a cena.
Um dia desses, tocando em um casamento, surgiu uma fotógrafa de outra cidade, bonitona, esbelta, com um vestido vermelho, bem decotado, costas de fora, passava de lado para outro, buscando os melhores ângulos. Diante dos presentes, vi o movimento de olhares e mentes. Nunca vi tamanha harmonia no movimento de cabeças masculinas. Parecia que eu estava diante de uma torcida, assistindo a uma partida de tênis. Enfim, ninguém assistiu o casamento. Nem eu.
Contaria sobre a vez em que o noivo, bem magrinho, perdeu uma das alianças e o padre pegou a do fotógrafo, bem gordinho e deu à noiva para por no dedo do displicente. Ele passou o resto do casamento com as mãos para cima.
Contaria sobre aquela vez em que o Brasil e Suécia disputaram a quarta de final na copa do mundo e os convidados, disfarçadamente, entravam e saiam da igreja em direção aos carros dos mais fanáticos, ouvindo a partida de futebol e que, durante aquele mesmo evento o meu colega violinista levou um pequeno televisor para assistir, no fundo da igreja, a evolução da partida.
Fico pensando quantos, ao longo de todos estes anos, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença seguiram os seus caminhos, lado a lado e outros, não.
Enfim, todos que subiram ao altar, o fizeram em nome do amor, em busca da felicidade. Se foram ou não felizes, isso coube a forma como conduziram o seu casamento.
De uma coisa eu tenho certeza: mesmo que os celebrantes tenham afirmado centenas de vezes: "O que Deus uniu que o homem não separe" - e a vida, no desenrolar do cotidiano, tenha provado o contrário, acima de tudo, Deus, na sua verdade, já sabia se era eterno ou não essa relação.
Como músico terminaria este texto com uma canção de Djavan - pena que os jornais não tenham som - “O amor é um grande laço. Um passo para uma armadilha. Do lobo correndo em círculo para alimentar a matilha...”
Laço ou armadilha... Não sei, mas de uma coisa tenho certeza: A pior coisa na vida é se arrepender do não fez.

Geraldo Magela

Um comentário: