sexta-feira, 23 de julho de 2010

Das serenatas aos corações dos apaixonados

Estava procurando nos sites de busca as palavras CANÇÕES – AMOR. Fiquei impressionado com o número de ofertas sobre essas referências. Canções que falam de amor, aos milhares, em todos os idiomas, estilos e ritmos.
Como ficou fácil acessá-las, adquiri-las e ouvi-las via mp3! Porém, menos romântico.
Repentinamente, me vi nos fins da década de 70. Éramos um grupo de uns doze jovens que, depois da escola, e de um cochilo após o almoço, ficávamos ao lado de uma vitrola ou gravador de fita k7 avançando e voltando as gravações, enquanto copiávamos as letras e tentávamos pegar as melodias de ouvido - canções de amor da época.
Veio-me à lembrança, a quantidade de rapazes que ajudamos a consolidar o seus relacionamentos com as serenatas que fazíamos nos fins de semana.
Reuníamos às margens da lagoa Paulino, precisamente na esquina da Lassance Cunha ou nos arredores da Catedral. Afinávamos os instrumentos, entre piadas e fofocas. De lá, saíamos às casas das namoradas e pretendentes, atendendo aos pedidos daqueles que nos acompanhavam. Sem falar nos bêbados e loucos, que nos seguiam quase em procissão, fazendo coro ou torcidas.
Através de flautas, violões, gaitas, cantores, caixinhas de fósforos, os penetras desafinados e os empolgados pela emoção de estar na porta da amada, que se aventuravam a cantar juntos. Éramos cupidos urbanos.
Pelas madrugadas e sob as janelas que demonstravam entre as persianas, luzes, que de propósito, piscavam dizendo que o recado estava dado.
Na época, as serenatas estavam proibidas. Assim, agíamos como um grupo de operações táticas que circulava na clandestinidade. Enquanto uns executavam o repertório, outros ficavam nas esquinas, de tocaia. Se aparecia uma viatura, sumíamos feito fumaça ou despistávamos como se estivéssemos fazendo xixi. Me lembro da vez em que ,ao me esconder no corredor lateral de uma residência , me dei ao lado na casa do cachorro. Acho que ele me conhecia e gostava do nosso trabalho, pois não fez nada. Apenas se assustou com o meu susto. Todo o fôlego que tinha para soprar uma flauta sumiu, numa apneia momentânea.
Quantas e quantas vezes cantamos “Boa noite. Diga ao menos boa noite. Abra ao menos a janela pois eu canto pra você...” Enquanto isso, o sol começava a fazer sombra sob os nossos instrumentos.
Sabemos que muitas histórias de amor começaram sob os nossos acordes. Sabemos que muitas canções de Fagner, Roberto Carlos e outros se tornaram a senha de acesso para recordar o namoro de muitos casais, que hoje não dormem enquanto seus filhos não chegam das noitadas. Sabemos que muitas histórias não se afinaram e se perderam no tempo como uma sinfonia inacabada. Muitas canções se perderam, muitos amores se esvaíram por outros mais intensos. Mas, uma coisa é certa: tocar e cantar pelo e para o amor foi e tem sido, entre todas as formas, a maneira mais próxima de nos tornamos divinos e inesquecíveis para os apaixonados.

Geraldo Magela de Souza Pontes
Professor e músico
www.vitrinenoivas.com.br




3 comentários:

  1. Que lindo.. deve ter sido tempos muito bons....
    abraços

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  2. NOOOOSSA, QUE NOSTALGIA, GERALDINHO! BONS TEMPOS AQUELES.......PENA QUE ESTE TIPO DE PRAZER OS NOSSOS FILHOS NÃO TERÃO, FOGE COMPLETAMENTE A ERA TECNOLOGICA EM QUE ESTAMOS.
    OBRIGADA POR ME REMETER A TÃO SAUDOSAS LEMBRANÇAS.

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  3. Relembrar o passado com saudades é sonhar com um futuro melhor, porque essa saudade é apenas um sonho realizado com vontade de se fazer presente em nossas vidas novamente.

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